sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Ciranda em mim

Através dos livros da biblioteca lá de casa
Desde pequena, Pessoa me dispertava certa curiosidade
Através de uma certa poesia interpretada pelo meu pai
Pessoa foi tomando espaço dentro de mim
E hoje, aos 20 e tantos anos, Fernado Pessoa tem feito ciranda em mim...


“O meu olhar é nítido como um girassol.


Tenho o costume de andar pelas estradas

Olhando para a direita e para a esquerda,

E de vez em quando olhando para trás…

E o que vejo a cada momento

É aquilo que nunca antes eu tinha visto,

E eu sei dar por isso muito bem…

Sei ter o pasmo essencial

Que tem uma criança se, ao nascer,

Reparasse que nascera deveras…

Sinto-me nascido a cada momento

Para a eterna novidade do Mundo…

Creio no mundo como num malmequer,


Porque o vejo.

Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender…

O Mundo não se fez para pensarmos nele


(Pensar é estar doente dos olhos)


Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos..


Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,


Mas porque a amo, e amo-a por isso


Porque quem ama nunca sabe o que ama


Nem sabe por que ama, nem o que é amar…

Amar é a eterna inocência,


E a única inocência não pensar…”

Alberto Caeiro, em “O Guardador de Rebanhos”, 8-3-1914



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